domingo, 14 de setembro de 2008

Nós somos tão pouca coisa


Outro dia me deparei com um belo poema: Mon amie la Rose”. Trata-se de uma chanson gravada por Cécile Caulier, Jacques Lacombe em 1964, ano em que eu nasci. O poema começa assim: "Nós somos tão pouca coisa/ E minha amiga a rosa me disse esta manhã: Na aurora eu nasci, batizada com o orvalho/ Eu desabrochei, feliz e amorosa/ Ao raio de Sol/ À noite eu me fechei/ e acordei velha/ Eu fora linda / sim, eu fora a mais linda/ das flores do seu jardim".
Essas palavras magicamente me convidaram a uma reflexão. Nós somos tão pouca coisa e vivemos como se fossemos eternos. Como a rosa nos disse: a vida se dá em um dia. Quando a noite chega, as pétalas se fecham e logo não seremos mais a mais linda das flores do jardim. A noite virá, na minha e na sua vida. Nós somos tão pouca coisa!
Por um breve tempo eu também senti meu coração desnudo. As palavras da rosa invadiram meu ser: "veja o que Deus me fez / me fez curvar a cabeça/ E eu sinto que caio/ E eu sinto que caio/ Meu coração está desnudo/ Tenho o pé na cova/ Logo não serei mais.”
Resolvi então, novamente ler o poema. E quando novamente me deparei com “na aurora eu nasci” as palavras ganharam novas cores, novas nuances. Foi como o dia que amanhece, onde a luz do sol revela as cores das folhas e das flores, das coisas e dos seres. Na aurora eu nasci... Lembrei-me então de Maria, a aurora da salvação. Da aurora nasce o Sol, e de Maria o Sol da justiça. E seguindo a leitura, agora com o coração cheio de esperança: "batizada com o orvalho. Eu desabrochei, feliz e amorosa. Ao raio de Sol". Que belas palavras! Que rosa sábia! Novamente, as suas palavras invadiram meu ser. Mas agora meu coração que antes desnudo, exibia uma veste esplêndida. Eu desabrochei, feliz e amorosamente. Bela manhã! A manhã da minha vida! A manhã das manhãs.
E o poema seguia: “Você me admirava ontem/ Eu que serei pó amanhã e para sempre/ Nós somos tão pouca coisa/ E minha amiga a rosa, morreu esta manhã/ A lua esta noite, velou minha amiga/ E nos meus sonhos eu vi/ Encantar as noites/ sua alma que dançava/ E antes de eu a reconhecer/ Sorria pra mim”.
E minha amiga a rosa, morreu esta manhã... Nós que somos tão pouca coisa... Sim, nós somos efêmeros! A vida é efêmera! E como a rosa nos disse: a vida se dá em um dia. Mas aquela rosa foi tão bela, que a lua a velou!
Um dia eu verei o pôr-do-sol, e quando a noite chega, as pétalas se fecham. Mas naquela noite, também haverá poesia, a lua velará esse ser efêmero. E quem sabe, a minha alma dançará pra você, no seu dia.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Fases da lua, fases da vida

Um olhar negro
Vazio e desestimulante
Com cara de túmulo
Velho e assustador
Em forma de cemitério
Antigo e mal assombrado
Assustando os corações
Era desilusão
De um amor de traição
Era noite de quarto-minguante!

II

Um olhar triste
Turvo e frio
Com lágrimas
Serenas e lentas
Em forma de orvalhos
Regando e salgando
As plantas adormecidas
Um vazio, um vácuo
Um papel, um bilhete
Uma mensagem cinza
Perdida nas trevas
Era noite de lua nova!

III

Um olhar verde
Meigo e amigo
Com sorriso aberto
Manso e agradável
Em forma de esperança
Acordando e convidando
As plantas desiludidas
A despertarem para a vida
Numa mensagem verde
Cobrindo os corações desbotados
Turvos e poluídos
Era noite de quarto-crescente!

IV

Um olhar lindo
Azul e branco
Com uma cara poética
Forte e amável
Em forma de amor
Prateando e fraternizando
As flores murchas
Intimando-as a cobrirem os campos
Numa tonalidade
Azul e branco
Com margens verdes
Pondo um término
Na solidão
Fazendo das trevas
Um bosque de amor
Era noite de lua cheia!
V

Quarto minguante
Cemitério do céu
Bola de fel
Revolta dos amantes
No amor a traição
Morte amarga, doença de dor
Início de ódio, fim de amor
Forte golpe, frágil coração

Quarto minguante
Mingua os seres
Bicham os amantes

Bicha a ilusão
Bicham os seres
Só não bicha a solidão.

VI

Lua nova
Lua cinza
Bola triste
Bola turva

Fossa nova
Fossa cinza
Fossa triste
Fossa turva

Lua fossa
Lua fria
Fossa lua

Fria fossa
Fossa fria
Fria lua

VII

Quarto crescente
Meia lua
Completa esperança
Luz verde

De novo adolescente
Emoção de lua
De novo criança
Amor verde

Verde lua
Adolescente verde
Verde amor

Adolescente lua
Lua verde
Adolescente amor.

VIII

Lua cheia
Lua azul
Cheia de branco
Cheia de amor

Vida cheia
Vida azul
Cheia de branco
Cheia de amor
Lua das vidas
Lua dos corações
Lua das flores

Flores das vidas
Flores dos corações
Flores dos amores.

domingo, 10 de agosto de 2008

A Marca da Mãe

Palavra, palavra que cria.
Homem, feito a imagem e semelhança do próprio Deus.
Palavra, palavra que exclama o encantamento e o arrependimento.

Eva, aquela que contemplava a face do Senhor, e gozava de todo bem.
Concebe a palavra da serpente, gera desobediência e morte.
Eva, aquela que contemplava a face de Deus, se corrompe e perde a graça.

Providência, Divina Providência, esmaga a cabeça da serpente.
Maria, uma nova mulher, aquela cheia de graça.
Concebe fé e alegria, gera obediência e vida.

Um novo Céu, uma nova terra.
Um novo homem, uma nova vida.
A vida em rosas, a vida em cores.
Bela porta! Nova Eva! Mãe Santíssima!

Porta que não se rompe.
Eva que não se corrompe.
Mãe que não se cansa.

Verbo, verbo que se encarna,
No seio da virgem.
E faz morada em meio a nós.

Deus, Deus feito homem,
Que traz em si a unidade com o Pai.
No olhar, a paz que o mundo não tem,
No sangue, a marca da mãe.

Charme

Cabelos de leoa
Boca de fera
Lábios de serpente
Pele de prazer
Corpo de sonhos
Alma de criança
Olhar de malícia
Andar de deusa
Jeito de mulher.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Pátria Árida

As lágrimas não falam, não calam, não escutam.
São águas profundas, que brotam do coração.

É como se fosse o sangue, minando da carne;
É como se fosse a alma, abandonando o corpo.

Assim como as lágrimas escorrem no rosto,
Escorrem entre os dedos, as lágrimas do seu coração.

E no teu olhar tristonho, restam as marcas das lágrimas,
Que escorrem pela a pele enrugada;
Pelos ossos descarnados, de um rosto “sertânico”.

E nesse gosto miserável, um amargo profundo,
Gerado no fígado, resto de uma cirrose,
Brindada em Brasília.

Triste cachaça, chamada política.
Triste seca, seca faminta.
Triste maldade, triste Pátria amada.
Desgraçada... Mas amada!

Amada na terra, mesmo quando árida.
Árida no falar, árida no agir.
Árida, completamente árida!

As lágrimas que rolam, são águas profundas,
Que saem do coração,
D’aqueles de pés no chão;
De cabeças chatas;
Das negritudes do morro;
Dos barrigudinhos da baixada;
Dos vermes que por acaso,
São filhos dessa Pátria árida,
Árida, completamente árida.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Paródia Eleitoral Para Menores de Urna.

Um dia, as coisas do “Paraíso Verde”, quiseram se emancipar.
E eleger um prefeito pro Vale.

Os três reinos entraram logo a matutar:
Animais, vegetais e minerais.
Começaram viver uma vida agitada
De surtos eloqüentes.
Manobras,
Recados furtivos,
Mensagens cifradas,
Promessas mirabolantes,
Intrigas,
Palpites e conversinhas ao pé do ouvido.

Entre os bichos era um tumulto formidável:
Bandos de bichos saiam em caravana eleitoral;
Matilhas de candidatos discursavam em praças públicas;
Cáfilas de intelectuais percorriam nos seus desertos encefálicos;
As alcatéias pichavam os muros à surdina da noite;
Os búfalos panfletavam pelas savanas.

Todo sistema era posto à prova:
A astúcia da raposa,
A agilidade do felino,
O engenho da ameba,
As intrigas da serpente,
A teimosia dos burros.

Enquanto as andorinhas buscavam o refúgio das igrejas,
As águias fascistas organizavam lá no alto, uma conferência com as aves de rapina.

Quem será o prefeito do “Paraíso Verde?”
Na fábula do mineiro seria a rosa a rainha,
Mas no vale a coisa fedia mais do que o bode e a gambá juntos.
Os candidatos engastalhados eram vaiados quando se vestiam de homens;
Outros atolados nos brejos da corrupção, rodeados de ratos e moscas, repetiam slogans Monótonos;
E o povo, parente da tartaruga, sonhava com o carbono das profundezas da terra, para Reluzir suas esperanças.

No meio desse zôo-ideológico, os operários vegetais entraram em greve geral.
Nada de germinar,
Nada de brotar,
Nada de verdejar,
Nada de florescer.

Os minerais resolveram sair do anonimato.
Seu líder, o diamante, subiu no palanque e discursou:
A despeito dos interesses em choques, e de tantas contradições “cavalescas”, é preciso dizer: chega de vermes.
Estamos fartos do reino animal e da sua podridão.
Estamos fartos dos seus esgotos.
Diante de tanta lama, precisamos de um homem.
E não de animais.

sábado, 12 de julho de 2008

Asas em pó

Na fúria da juventude
Vaguei nas asas verdes
Pelo firmamento, efêmero e azul
Buscando um arco-íris
Na noite escura, cruel e fria.

Nas asas do tempo
A levedura da juventude
Não passa de fogo de palha.
O que consome agora
São as entranhas, a alma
O cerne da vida.

E queima como brasa
O coração que ama
A esperança que impulsiona
A escência da vida
Volatizando o aroma das rosas
O charme que conquista.

E o que fica
São as cinzas, a velhice
Sem o germe que faz brotar
Os ramos da vida.

Céu Negro

Eu vejo grades
O céu está negro
A porta se fechou.

Drogas!
Lá fora há tanto tipo de gente!
Tem gente que dá volta,
Tem gente que anda às voltas,
Tem gente que se perde.

O mundo é assim,
A vida é assim,
Para uns simples, para outros triste.
Uns cantam, outros gritam,
Uns choram, outros calam,
Muitos vivem, muitos morrem,
E muitos não vivem e ném morrem,
Apenas se drogam.

Eu vejo grades,
O céu está negro,
A porta se fechou,
Num mundo de horror.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Um dia depois

Aquela mulher, no poço de Jacó.
Ou quem sabe, aquela do perfume, das lágrimas e dos cabelos...
Aquele rabisco no chão e aquele olhar de perdão.
Quem sabe, a Sua voz...
Aquela angústia... Daquele jovem rico.

Não, eu vim um dia depois!
Não toquei Suas vestes, não toquei Suas chagas...
Minha cabeça não experimentou Seu ombro!
Não caminhei sobre as águas... Não subi naquela árvore.
E nem O vi subindo aos céus.
Não, eu vim um dia depois!

Aquele monte... Aquelas palavras... Sim, vivas no tempo!
Mistério! Um dia depois!
Com a mesma carne... O mesmo sangue...
Aonde irei, se só Tu tens poder de me transfigurar?
Mesmo, um dia depois.

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terça-feira, 15 de abril de 2008

A sarça ardente

Meu peito, a sarça ardente.
Fogo que não se consome
Solo que se fez sagrado

Meu leito, a burguesia fedida.
Águas escuras e podres
Poses e pérolas nobres
Curso e vida vã

Meu sim, meu arrependimento.
Renúncia, dor de morte.
Liberdade conquista perene.
Primeiro encontro, primeiro amor.

Meu peito, a sarça ardente.
Posto que me fiz bem aventurado
Despido até das alpargatas
Pelas veredas dos miseráveis
Abortado, fecundo está.

Tempo, a memória que se apaga.
O vento que vaga
Mas, a maravilha do deserto.
Chama que não se consome, apaga-se?
Não, não deixarei que se remova o candelabro.
Posto que a sarça ardente
Renova em mim e não se consome.

http://palcodapoesia.blogspot.com

Um bom vinho

Um bom vinho vem de um bom planejamento. Define-se primeiro que tipo de vinho se quer produzir, de acordo com o local.
Em função dessa definição, faz-se a escolha da videira. Prepara-se o terreno, planta-se e cuida-se daquela que será a raiz e a referência de todos os ramos. Corta-se o mato que cresce e fazem-se parreiras. Rega-se a vinha e providencia-se para que cada cacho de uvas receba a quantidade de luz que precisa.
Quando as uvas estão maduras são então colhidas seletiva e cuidadosamente.
Os frutos vão então para o silo onde serão triturados e fermentados. Essa etapa deve ser cuidadosamente controlada pelo vinicultor.
Separa-se então o mosto das cascas e sementes. Leva-se o mosto para dar continuidade à fermentação em barris de carvalho.
Dentro de alguns meses tem-se então um vinho, que pode ser bebido em fim de festa.
Dentro de alguns anos tem-se um vinho digno dos melhores cardápios da alta gastronomia.
Dentro de algumas décadas tem-se um vinho raro para celebrações solenes.
A palavra de Deus é como a videira à espera de uma terra fértil.
O evangelizador é quem prepara o solo, planta e cultiva a vinha. É ele quem contempla cada ramo que nasce e exulta de alegria quando avista os primeiros cachos. É aquele que espera pacientemente as demoras de Deus.
A uva então amadurece, é colhida e levada para a vinícola.
Dentro de alguns meses tem-se um neoconvertido.

Repouso

Quando atravesso vales escuros
Verdadeiros desertos em minha vida
E as minhas forças se rendem
Ao esgotamento de minha alma
Sinto então, sede de água.
E fome de pão.

Mas as águas refrescantes
Não jorram do poço de Jacó
Jorram do lado esquerdo
Do meu Senhor.

E o pão que sustenta
Não vem dos moinhos de hoje
E não é o maná de ontem
Vem do cordeiro de Deus
Que tira o pecado
Do meu coração.

Quando a minha fraqueza é tamanha
Repouso em verdes prados
Deito a minha cabeça em seu ombro
E a minha alma em seu Santo Espírito

Com as minhas forças restauradas
Peregrino em retos caminhos
Por amor de Seu nome.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

A beata de minha vida

Quero ver eu negar agora,
a beleza que há, na sombra das pétalas da rosa.
E não admitir que é rosa.
E que sua sombra, também é rosa.

Não posso negar,
que quando floreio as palavras,
tento camuflar frases
que giram em torno do verbo amar.

Bela beata!
Espero que seja beata também do meu amor.
Assim como te espero, mesmo quando te tenho.

E agora, de frente a ti, boca a boca,
como um solo musical.
Produzido nas entranhas das rochas mais escondidas,
e reveladas por um feixe de luz singular.
Digo às palavras que se esconderam nas flores,
e vejo nossos corpos bailarem as músicas das rochas,
agora despidas.

Bela beata!
Sua pele são pétalas morenas e não rosas.
Despidas e perfumadas.

E agora, inebriado com seu aroma,
sem cor e sem sombra.
Rendo-me as suas preces.

S.O.S. Terra

S.O.S. ... precisa-se urgentemente de sangue
Do tipo, P.A.Z.
S.O.S., precisa-se de doador
S.O.S., procura-se doador de pulmão
Do tipo, natureza
S...O...S, precisa-se de doador de coração
Do tipo amor

S.O.S, S...O...S, procura-se doador
S...O...S, precisa-se urgentemente de córneas
Do tipo poesia

S.O.S, S.O.S, S...O.S
Atenção doadores
Comparecer no instituto médico-intergalaxial
Paciente...,Terra.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Charme

Cabelos de leoa
Boca de fera
Lábios de serpente
Pele de prazer
Corpo de sonhos
Alma de criança
Olhar de malícia
Andar de deusa
Jeito de mulher.

Marapendi

Em meia vida e meia morte
Sob o sol, sob a lua
Respira homem, bebe óleo
É senhora é dama
Foi bela será privada
É maria é nativa
Foi índia é selvagem
É museu em demolição

Em meia vida e meia morte
Índia Maria, uma guerreira em silêncio
Mansa e carinhosa
Mãe de tantas mães
Acalenta e alimenta
Suas últimas esperanças

Em meia luz e meia trevas
Depois de gerar tantas vidas
De encantar tantos olhos
A mãe Marapendi
Que vivia com tanta vida
Que se definia com tanta elegância
Como essência de pureza
Aborta a vida
Fecunda o fim
Respira a morte

Em meia realidade e meia ilusão
Em falso progresso e pura decadência
Com aplausos inconscientes
Nos bombardeamos ignorantemente.